sábado, 1 de agosto de 2020

Negrinha Geni

"E ele me disse assim, dentro da minha alma:

Digamos que eu seja sim,
três ou quatro personalidades de um único eixo original.
Seu lugar eu estabeleço junto aos escarnecedores
pobres, oriundos,
malditos, presidiários,
ou com os outros pretos.

Devido à cor da sua pele,
nunca terás o melhor de mim.
Nunca terás minha doçura,
dinheiro, noites flamejantes
e sem-fim.

Nós daqui deste lado
tragamos satisfeitos
a angústia de dentro do peito negro e pobre.

A angústia que não atinge nossos filhos,
esposas ou vizinhos.

É uma angústia que sentimos
através de vocês
testemunhando sua dor
e concordando que alguém deveria
agir ao seu favor.

Mas não, que isso não venha de mim:

Que escrevas poesias
solte gemidos em mi menor.
a vida com meus percalços de homem branco é difícil -
ao lado de uma negrinha ardente seria ainda pior.

Eu entendo que os amigos do racismo
são inimigos do Estado Social
prejudicando a sociedade
na política anticomercial.

Mas essa angústia que não me atinge na face,
deveras, ainda a sinto no âmago
Preciso sentir o desprezo que direciono a ti
para ver tal qual o reflexo de seu estômago:

o sentimento em seu ventre
borbulhando na humilhação perene,
todas as dores que você não teve coragem de admitir.
Todos os homens que não fizeram questão de te admitir.
E todos os outros, desvalidos, que esticaram a mão para te conduzir!
Foi o que restou, este é o seu fim,
Negrinha Geni!"

Thaís Fernanda Ortiz de Moraes


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